Precisa-se de Engenheiros Espaciais

Olá leitor!

Segue abaixo um interessante artigo escrito por José Monserat Filho postado dia (24/07) no blog “Panorama Espacial” do companheiro jornalista André Mileski, destacando que o PEB precisa de engenheiros espaciais.

Duda Falcão

José Monserrat Filho, chefe de cooperação internacional da Agência Espacial Brasileira, enviou ao blog o artigo abaixo, de sua autoria, que trata da carência de recursos humanos no Programa Espacial Brasileiro. Leitura essencial para quem acompanha o programa, inclusive com algumas informações inéditas:

Precisa-se de Engenheiros Espaciais

E também de especialistas e técnicos em
diversas áreas das atividades espaciais
José Monserat Filho*

O Programa Espacial Brasileiro – como parte essencial de sua anunciada reestruturação e da nova etapa de dinamismo e eficiência propostas pela Agência Espacial Brasileira (AEB) – terá necessariamente que mobilizar um quadro bem maior de recursos humanos qualificados.

Atender com rapidez e competência à demanda por gente bem preparada é crucial para nós. Menos de três mil profissionais trabalham nas instituições e empresas que integram hoje o Programa Espacial Brasileiro. Impossível ir muito longe com tão poucos especialistas. A sobrecarga de trabalho já é um problema. Só para comparar, em 2009, toda a Europa tinha 31 mil profissionais do espaço, a NASA, 15.800, e o Japão, 6.300.¹

Pior ainda, o bravo contingente vem diminuindo incessantemente, nos últimos 20 anos. Agora ele precisa voltar a crescer para dar conta das mudanças imperiosas que precisam ser concretizadas com toda a pressa. Para tanto, há também que ampliar, e muito, a colaboração espacial entre nossas universidades, bem como entre as universidades brasileiras e de outros países.

Estudos da AEB, ainda não divulgados, dizem que o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), do Ministério da Defesa, precisaria contratar de imediato – pelo menos – 600 especialistas, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 400, e a própria AEB, 40.

O Presidente da AEB, Marco Antônio Raupp, já negocia com o Presidente do CNPq, Glaucius Oliva, a destinação de, pelo menos, 300 bolsas de graduação e pós-graduação – vindas do programa Ciência sem Fronteiras – para um grande esforço de formação de engenheiros e técnicos indispensáveis à nova fase de avanço e expansão do Programa Espacial Brasileiro.

A Presidente Dilma Rousseff² reiterou que o Programa Ciência sem Fronteiras movimentará 75 mil bolsas do governo federal e, muito provavelmente, outras 25 mil custeadas pelo setor empresarial. Sabe-se que acelerar o desenvolvimento da competência do país na área espacial, em vista de sua relevância estratégica e de seu impacto econômico, está entre as maiores prioridades do Governo. Jovens brasileiros serão enviados para se prepararem em 30 Universidades e Centros de Pesquisa Científica e Tecnológica de reconhecida excelência em vários países. Por outro lado, especialistas que estão sendo dispensados pela NASA, em virtude do fim de Programa como o dos Ônibus Espaciais e outros também seriam muito bem-vindos no Brasil.3

Rússia e Ucrânia já se oferecem para receber nossos estudantes nos campos da engenharia espacial e de outras especializações que atendem diretamente às nossas necessidades.4

A empresa ucraniana Youzhnoye, sediada no grande centro industrial de Dnepropetrovsk, está abrindo suas portas para formar brasileiros na tecnologia estratégica de propulsão líquida. Para tratar desse e de outros assuntos de interesse mútuo, o dublé de Projetista Chefe e Diretor Geral da Youznoye, Alexander Degtyarev, deve vir ao Brasil em setembro próximo.5

No Brasil, em 2009, as Universidades federais do ABC (UFABC, em SP) e de Minas Gerais (UFMG) criaram cursos de Engenharia Aeroespacial. A Universidade de Brasília (UnB), em boa hora, desenvolve programa semelhante.

A Universidade Federal do Maranhão (UFMA), por sua vez, está sendo instada a seguir o mesmo rumo, dada sua proximidade do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), inclusive instalando um campus avançado no próprio CLA. Outras universidades do Nordeste e do Norte, federais, estaduais ou privadas, poderiam assumir um projeto similar, a fim de se pôr em dia com as ciências e tecnologias espaciais, hoje fundamentais. Quem sabe através da criação de um consórcio?

Esse esforço se deve a que, “sendo a formação em nível de pós-graduação insuficiente para gerar a massa crítica requerida de profissionais, torna-se necessário investir em estratégias que privilegiem a formação em nível de graduação (tecnólogos e engenheiros) e que, em complemento, estimulem a retenção de talentos nas atividades previstas no Programa Nacional de Atividades Espaciais (PNAE)”, como bem observou o Brigadeiro Maurício Pazini Brandão, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA).7

Em 2010, outro curso de Engenharia Aeroespacial nasceu no ITA, por iniciativa da AEB, INPE e do Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE/DCTA). O curso do ITA formará especialistas em navegação e guiamento, propulsão e aerodinâmica, e eletrônica para aplicações espaciais. E em 2012, terá sua primeira turma de dez graduandos. Esse número poderá ser duplicado em breve.8

Gilberto Câmara, diretor do INPE, notou que “o esforço de formar recursos humanos e produzir pesquisas de qualidade não é suficiente para, por si só, gerar riqueza”, pois é preciso “transformar o conhecimento em benefícios sociais e econômicos de forma sistemática e eficiente”.9

Certo, formar recursos humanos não é suficiente, mas é imprescindível. Vale o que frisa o Brigadeiro Reginaldo dos Santos, reitor do ITA: “Recursos humanos bem formados, a existência de laboratórios atualizados e um programa espacial coerente com a participação plena do setor empresarial são os principais ingredientes para que o Brasil chegue, no início da próxima década [2020], a uma situação semelhante à de países emergentes, como Índia, Coreia do Sul e China”.10

Tudo isso se insere hoje num quadro em que já não resta a menor dúvida sobre a importância estratégica das atividades espaciais e sobre a necessidade de subordiná-las diretamente à Presidência da República. No dizer de Samuel Pinheiro Guimarães, é a “retomada do Programa Espacial Brasileiro em bases mais estáveis, com visão de longo prazo e dotação orçamentária compatível com sua prioridade”.¹¹ É o novo tempo do “Brasil Espacial Urgente”, conforme salientou Raupp na audiência pública sobre o Programa Espacial Brasileiro, promovida pela Câmara dos Deputados, em 14 de junho de 20011.¹²

* Chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da AEB.

Referências

1) The Space Report 2011, Space Foundation, Washington, DC, USA, 2011.

2) O Globo, de 23 de julho de 2011.

3) Correio Braziliense, de 23 de julho de 2011. O governo pretende aumentar de 75 mil para 100 mil o número de bolsas a serem disponibilizadas, até 2014, para brasileiros estudarem nas 30 melhores universidades do mundo. A diferença de 25 mil benefícios em relação ao anunciado no início de maio seria bancada por empresários que fazem parte do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, órgão consultivo da Presidência da República. O programa, batizado de Brasil sem Fronteiras, tem outra vertente: trazer cientistas estrangeiros para liderar pesquisas em universidades nacionais. A proposta da presidente deve movimentar entre R$ 2 bilhões e R$ 3 bilhões até o fim de seu mandato.

4) Acerto feito nos encontros do Presidente da AEB, Marco Antônio Raupp, com o Presidente da Agência Espacial Federal Russa (Roscosmos), Vladimir Popovkin, em Moscou, em meados de abril, e com o Presidente da Agência Espacial Nacional da Ucrânia (NSAU), Yuriy Alekseyev, em Kiev, no início de julho.

5) Carta do Sr. Alexander Degtyarev ao Presidente da AEB, de 21 de julho.

6) Reginaldo dos Santos, Estratégia de Formação, Capacitação, Treinamento Operacional e retenção de Recursos Humanos, in A Política Espacial Brasileira, editado pelo Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara dos Deputados, sendo relator o hoje Senador Rodrigo Rollemberg (DF), Parte II, 2010, pp. 253-257.

7) Maurício Pazini Brandão, Recursos humanos para a consecução da Política Espacial Brasileira, in A Política Espacial Brasileira, editado pelo Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara dos Deputados, Parte II, 2010, pp. 53-66.

8) Reginaldo dos Santos, idem ibidem.

9) Gilberto Câmara, Os benefícios do Programa Espacial para a sociedade, in A Política Espacial Brasileira, editado pelo Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara dos Deputados, Parte I, 2010, pp. 113-117.

10) Reginaldo dos Santos, idem ibidem.

11) Samuel Pinheiro Guimarães, O Brasil na era espacial, in A Política Espacial Brasileira, editado pelo Conselho de Altos Estudos e Avaliação Tecnológica da Câmara dos Deputados, Parte I, 2010, pp. 87-89.

12) A audiência foi requerida e presidida pelo Deputado Federal Carlinhos Almeida (SP)


Fonte: Blog “Panorama Espacial“ - André Mileski

Comentário: As colocações do Monserat são precisas e conhecidas há anos, ou seja, não são novidades, mas apesar da movimentação do ITA e de algumas outras universidades nada adiantará se o governo continuar fazendo promessas invés de agir. De conversa fiada a comunidade espacial já está de saco cheio. Já entramos no segundo semestre do ano sem qualquer atitude que demonstre um real interesse de fazer algo, há não ser muita promessa e nada de concreto, justamente o que normalmente se espera da classe política desse país.

Comentários

  1. Toda vez comentam de diversas universidades do país que estão formando profissionais! Mas sempre esquecem do INPE, que tem o mestrado em Engenharia de Tecnologia Espaciais, com enfâse em Mecânica Orbital e Controle! Será porque?

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  2. Olá Mensageiro!

    Bom pergunta amigo, mas infelizmente essa eu não sei lhe responder.

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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  3. Diga-se de passagem que os engenheiros do INPE forma os únicos brasileiros que já conseguiram colocar alguma coisa funcionando no espaço o SCD-1 e SCD-2, e um deles está a mais de 20 anos em operação uma grande proeza ao contrário do satelite feito em parceria com a china q não teve uma vida útil de 3 anos!! Então deve-se respeito a engenharia daquele lugar!!

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  4. Bem lembrado Mensageiro!

    Aliás essa é uma das poucas vitórias do PEB demonstrando que se o governo da época e os subseqüentes tivessem dado o apoio necessário a esses engenheiros e ao INPE, certamente hoje não teríamos perdido lamentavelmente a hegemonia na construção de satélites para os argentinos.

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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  5. Mas do que adianta formar engenheiros se o governo não investe mas recursos nos projetos em andamento ,é não abre concurso públicos para INPE e DCTA ,IAE .Eu gostaria de fazer engenharia espacial ,mas no Brasil como as coisas andam eu acabaria ,trabalhando em outro setor que não seja o espacial.

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  6. recentemente visite o INPE e consegui entrar no LIT( onde se faz a integração dos satélites) e foi incrivel, inclusive várias empresas contratam o LIT para se fazer integração e testes não somente do setor aeroespacial. Aquele lugar é muito maior do que imaginamos, realmente tenho que concordar que aquele lugar merece muito respeito

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  7. Pois é André, basicamente este é o grande problema, afinal se não houver demanda, não há a necessidade de um número maior de profissionais. Entretanto, o que acontece nesse momento é que mesmo para a demanda existente está faltando profissionais qualificados e pior, o conhecimento e a experiência adquirida não está sendo passada para os mais jovens como deveria. Ta feia a coisa e a culpa é dos gênios de Brasília. Por isso a minha revolta.

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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  8. Olá Edgar!

    O LIT realmente é um laboratório excepcional e que presta grandes serviços ao nosso país. Entretanto, temos de lembrar que o mesmo foi criado para atender o Programa Espacial Brasileiro e esse objetivo não está sendo cumprido como deveria, já que não existe demanda. O fato do LIT prestar serviços a outras áreas não pode tornar-se a principal demanda do laboratório, pois o mesmo não foi criado para isso. Porém, infelizmente hoje é o que acontece devido ao entendimento distorcido do governo do que seja realmente um projeto estratégico.

    Abs

    Duda Falcão
    (Blog Brazilian Space)

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