Certificação do VSB-30 - Opinião


Olá leitor!

Segue abaixo um artigo/opinião publicado na revista “Espaço Brasileiro” (Jul., Ago. e Set. de 2009), destacando o processo de certificação por parte do Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI) do foguete brasileiro VSB-30.

Duda Falcão

Opinião

Certificação do VSB-30

Cel. Eng. Antonio de Magalhães Kasemodel*

Certificação é o processo pelo qual uma organização credenciada assegura o cumprimento de requisitos estabelecidos para um produto. Representa uma atividade de grande importância no desenvolvimento tecnológico e industrial. No campo aeronáutico, teve a sua origem com a consolidação do transporte aéreo após a Primeira Guerra Mundial, cujas condições de operação acarretavam um alto índice de acidentes, o que levou ao desenvolvimento de normas e requisitos que visava ao aumento da segurança nos vôos.

No Brasil, a certificação aeronáutica surgiu com a criação do Ministério da Aeronáutica em 1941 e, a partir de 1971, essa responsabilidade foi atribuída ao então Centro Técnico Aeroespacial, hoje Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), por intermédio do Instituto de Fomento e Coordenação Industrial (IFI).

Até 2003, ano da ocorrência do trágico acidente com o terceiro protótipo de VLS-1, em Alcântara-MA, as atividades de certificação a cargo do IFI abrangiam basicamente as áreas aeronáutica e bélica. No campo espacial, estava limitada a poucos materiais de emprego militar como, por exemplo, componentes pirotécnicos. Com base nas recomendações do relatório de investigação do citado acidente, a Agência Espacial Brasileira (AEB) orientou que todos os projetos de veículos espaciais desenvolvidos a partir de então, fossem certificados pelo IFI. Em função da não existência de normas e procedimentos nacionais específicos para a certificação de veículos espaciais, foram adaptados os métodos utilizados na área aeronáutica, acrescidos da experiência internacional divulgada sobre o assunto.

O foguete suborbital VSB-30, cujo desenvolvimento foi iniciado em 2001 pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) em parceria com a Agência Espacial Alemã (DLR), foi o primeiro projeto de veículo lançador a ser submetido a esse novo procedimento.

O processo de certificação do VSB-30, junto ao Órgão Certificador (OC), foi iniciado praticamente dois anos após o início do projeto. A essa altura, muitos testes de desenvolvimento de subsistemas já haviam sido realizados e não puderam, portanto, ser testemunhados pelos inspetores do OC. Contudo, foi possível a participação dos inspetores do OC nas atividades de integração, testes de aceitação de subsistemas e campanhas de lançamento de dois veículos e toda a documentação pertinente a esses testes, incluindo planos e relatórios de resultados que foram encaminhados para a análise do OC, cujo envolvimento, mesmo em fase adiantada, contribuiu significativamente para o desenvolvimento dessa atividade no país.

A certificação teve por base Normas Técnicas e Documentos de especificação técnica do Sistema Veículo e seus subsistemas, excluindo-se o Subsistema Propulsor S30 do 2° estágio e o Módulo de Carga útil, pelos seguintes motivos:

· O Propulsor S30 é o mesmo empregado em outros veículos já desenvolvidos, tais como o Sonda III e o VS-30;

· O Módulo de Carga Útil refere-se a um subsistema de responsabilidade do cliente/usuário do veículo, sendo peculiar para cada vôo e dependendo dos experimentos embarcados.

O conjunto de informações apresentadas ao OC também incluiu outros documentos tais como o Plano de Gerenciamento do Projeto, o Plano de Garantia do Produto, o Plano de Gestão da Configuração, o Plano de Desenvolvimento e Testes e a Matriz de Verificação do Projeto.

De acordo com Plano de Desenvolvimento e Testes do projeto, foram construídos modelos de engenharia e de qualificação dos sistemas e subsistemas que integram o veículo, tais como o conjunto de empenas do 2° estágio, o Sistema de Indução de Rolamento e o propulsor S31 (1° estágio). Um veículo completo foi construído e utilizado para o teste de qualificação em vôo.

A certificação realizada no VSB-30 revelou-se suficientemente adequada para garantir o cumprimento dos requisitos previstos para o veículo. Sua aplicação em outros projetos permitirá uma maior garantia da qualidade, bem como o desenvolvimento e a melhoria dos processos da própria atividade de certificação. Convém ressaltar que um importante benefício obtido ao se implantar o processo de certificação no VSB-30 foi uma melhor estruturação da documentação de projeto, seguindo normas internacionalmente aceitas.

De uma forma geral, a real contribuição da atividade de certificação para o aumento da confiabilidade de um projeto espacial é de difícil quantificação. Contudo, uma redução significativa dos insucessos tem sido observada em todos os projetos que adotaram esse procedimento e, portanto, pode-se afirmar que o desenvolvimento e o fortalecimento da atividade de certificação de veículos espaciais são de extrema importância para a soberania do País, em acesso ao espaço, e para o reconhecimento internacional da sua capacitação na área espacial.

* Vice-diretor de Espaço do IAE


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - núm 06 - Ano 2 - Jul., Ago. e Set. de 2009 - pág. 30

Comentário: Foi muito bom que esse processo ocorresse e realmente trará grandes benefícios para os projetos ora em curso no PEB. No entanto, essa iniciativa está com pelo menos 30 anos de atraso e só aconteceu agora devido a uma orientação da AEB gerada por conta do acidente com o VLS-1 de grandes proporções com perdas de vidas. As perguntas que ficam são: Será que se essas normas e procedimentos fossem adotados há 30 anos o acidente ocorrido com o VLS-1 poderia ser evitado? Será que não tem ninguém nas gerencias dos órgãos que gerenciam o PEB que possa fazer a simples pergunta do que é necessário para se realizar um programa dessa importância e dimensão com a segurança que a mesma impõe? Pelo visto o PEB esta na mão de gerentes que não tem nem a capacidade de gerenciar as suas próprias vidas, quanto mais às vidas dos abnegados técnicos, engenheiros e pesquisadores envolvidos com esse programa que é um verdadeiro barco sem rumo.

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