Presidente da AEB é Entrevistado Pela Espaço Brasileiro


Olá leitor!

Segue abaixo uma entrevista na íntegra do presidente da Agência Espacial Brasileira (AEB), Carlos Ganem, publicada na revista “Espaço Brasileiro” (Jul., Ago e Set. de 2009) onde o mesmo faz um relato do atual estágio do Programa Espacial Brasileiro (PEB).

Duda Falcão

Foto: Edson Haruki
Carlos Ganem, Presidente da AEB

Raíssa Lopes - CCS / AEB

Em março de 2008, o economista e administrador de empresas Carlos Ganem deixou a Superintendência de Articulação Institucional da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), cargo que exerceu por aproximadamente cinco anos, para enfrentar um novo desafio: assumir a presidência da Agência Espacial Brasileira (AEB). Desde então, a experiência em funções executivas na área pública e privada tem sido um dos diferenciais em sua gestão que, em setembro, completa um ano e seis meses.

Em entrevista especial concedida à revista Espaço Brasileiro, Ganem avalia o Programa Espacial Brasileiro. “Poucos países possuem um Programa Espacial completo e o Brasil é um deles”, diz o presidente da AEB. Carlos Ganem acredita que esse é um dos fatores mais importantes no desenvolvimento de uma nação e em seu posicionamento no cenário mundial. Desde que assumiu o cargo, Ganem já recebeu 14 missões técnico-científicas de países que visitaram o Brasil. “Com alguns, assinamos protocolos e acordos de cooperação bastante específicos. Com outros, estamos discutindo soluções pontuais de produtos, processos e serviços”, conta.

Hoje, o desenvolvimento de satélites é essencial para a soberania nacional, e privilegiado pelo Brasil. “Desenvolver um [satélite] geoestacionário brasileiro representa autonomia para as comunicações militares e estratégicas e para a capacidade de imageamento meteorológico nacionais”, diz Ganem. “Podemos citar a capacidade nacional de desenvolvimento de câmeras ópticas. Em paralelo, a AEB anseia por um satélite de monitoramento e segurança de suas fronteiras e, sobretudo, das regiões inóspitas onde existem dificuldades de termos base”, completa o presidente da AEB. Em entrevista à Espaço Brasileiro, Ganem fala, ainda, sobre os projetos existentes em Alcântara – o VLS e o Cyclone-4, a busca de tecnologia espacial em outros países e os programas da AEB voltados para os estudantes brasileiros, o AEB Escola, o Uniespaço e o Microgravidade.

Confira, a seguir, a íntegra da entrevista, em que Ganem fala sobre a importância da consolidação do Programa Espacial e dos avanços, em âmbito mundial, da área aeroespacial.

O Brasil é um dos sete países do mundo com programa espacial completo, ou seja, sítios de lançamento, foguetes, ou veículos lançadores de cargas úteis e satélites. Qual é a avaliação que o senhor faz do Programa Espacial Brasileiro?

O Programa Espacial Brasileiro tem por vocação atender às grandes demandas nacionais em termos de imagens e informações geradas a partir de satélites artificiais. Nesse contexto, o programa abrange o desenvolvimento e o domínio de uma gama de tecnologias – voltadas a foguetes lançadores, centros de lançamento, satélites e sistemas de solo para controle e processamento de informações – e infraestrutura laboratorial e industrial para execução. As aplicações do espaço, como a observação da Terra, a meteorologia e as comunicações tem guiado a política espacial, traduzida em temos de projetos como os Satélites de Coleta de Dados (SCD) ou os Satélites Sino-Brasileiros de Recursos Terrestres (CBERS), ambos em pleno funcionamento. Por outro lado, a capacidade de acesso autônomo ao espaço, fator de fortalecimento da soberania nacional, é perseguida com os projetos do Veículo Lançador de Satélites (VLS) e da empresa binacional ucraniano-brasileira Alcântara Cyclone Space (ACS). Esta empresa, aliás, concretiza o antigo anseio de exploração comercial da nossa vantagem competitiva representada pela região de Alcântara, no Maranhão, privilegiada quando se trata de lançamentos equatoriais. Além disso, ela abre a perspectiva de uma ótica econômica para o Programa Espacial, na qual inovação tecnológica e oportunidades de negócio convergem para a geração de produtos de alto valor agregado que, esperamos, venham a dominar a nossa balança comercial. Acreditamos que o Programa Espacial, portador de futuro por excelência, está contribuindo decisivamente para a construção do caminho que levará o Brasil ao patamar de nação desenvolvida e ator relevante no cenário internacional.

Como estão os dois projetos existentes em Alcântara - o VLS e o Cyclone-4 ?

Estamos aperfeiçoando, juntamente com o Instituto de Aeronáutica e Espaço (IAE) e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), os mecanismos pelos quais os testes de bancadas e suprimentos por parte da indústria nacional dêem ao novo VLS uma configuração verdadeiramente importante. Além disso, buscamos garantir a possibilidade de ver o foguete lançado com todo sucesso, já no primeiro vôo de teste - somente com o primeiro e segundo estágios ativos - previsto para 2011. Do lado do Cyclone-4 estamos falando de uma família de foguetes muito bem-sucedida do ponto de vista de lançamentos. São 220 lançamentos de foguetes da família Cyclone ao redor do mundo, sem falhas. A novidade é que um novo sistema de certificação esta sendo desenvolvido para a área espacial, para garantir que nossos produtos possam ser previamente avaliados, checados, testados, inclusive quanto à segurança, e avaliados por um organismo de certificação independente.

Uma parte importante para o programa espacial é o desenvolvimento de satélites. Até pouco tempo atrás controle de atitudes na plataforma multimissão (PMM) era um problema. Há alguma solução nesse sentido?

O Brasil esta, hoje, encontrando uma oportunidade extraordinária para desenvolver o segmento dos satélites. Após oito anos, estamos dando a solução ao problema, que era o “calcanhar de Aquiles” na plataforma multimissão, no que diz respeito ao controle de atitude. Por conta do bem-sucedido programa de cooperação com a Comissão Nacional de Atividades Espaciais da Argentina (CONAE), a INVAP, empresa argentina produtora com larga experiência no programa nuclear e espacial, foi contratada para auxiliar no desenvolvimento do subsistema de controle de atitude da plataforma multimissão.

Buscar tecnologia fora do país é a melhor solução?

Buscar lá fora pode representar, aos olhe de uma primeira leitura, uma alternativa pouco brasileira. No entanto, diante de um cenário de sucessivos atrasos desse projeto, mais importante do que adiá-lo é torná-lo factível. E muitas vezes você precisa de alguém que tenha vencido essa etapa e superado a dificuldade do ACDH [sigla em Inglês de Controle de Atitude e Supervisão de Bordo] e que possa dar conta de resolver o problema da plataforma multimissão brasileira e de seus quatro primeiros satélites – Amazônia-1, MAPSAR, Lattes e GPM-Br.

Os satélites geoestacionários são importantes principalmente no que diz respeito a comunicação e observação de lugares fixos da terra. Existem planos para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento desses satélites pelo governo brasileiro?

O desenvolvimento de um geoestacionário brasileiro representa uma autonomia para as comunicações militares e estratégicas e para a capacidade de imageamento meteorológico nacionais. Por isso, juntamente com o Ministério do Planejamento, a AEB está conduzindo uma série de estudos que confirmem a viabilidade de se estabelecer uma Parceria Público-Privada (PPP) para a construção do Satélite Geoestacionário Brasileiro (SGB).

Quais projetos com outros países o senhor destaca?

Há um projeto para o desenvolvimento de um satélite de observação da Terra baseado em radar de abertura sintética. Estamos desenvolvendo, no âmbito da plataforma multimissão, um projeto com a Alemanha do chamado MAPSAR. A grande vantagem da tecnologia de radar é a possibilidade de observação sob qualquer condição meteorológica, ou seja, seremos capazes de observar através das nuvens. Hoje, com satélites que levam câmeras ópticas, como o CBERS, o monitoramento da Amazônia, por exemplo, é imensamente prejudicado pela cobertura de nuvens, especialmente nos meses de verão.

Há também o Sabia-Mar, um satélite de observação dedicado a questões relativas à água, seja continental, seja do mar, objeto de interesse com o governo argentino. As duas chancelarias, argentina e brasileira, tem como meta desenvolver, no âmbito das aplicações, uma satélite de aplicações marítimas capaz de vigiar ambos os litorais.

Qual a importância dos contatos que a AEB tem feito com outros países? Como eles privilegiam o país?

Em 18 meses de gestão tivemos a possibilidade de recebermos 14 missões técnico-científicas de diferentes países que nos visitaram. Com alguns, assinamos protocolos e acordos de cooperação bastante específicos. Com outros, estamos discutindo soluções pontuais de produtos, processos e serviços, que possam dar ênfase a uma futura margem de cooperação, tendo como objeto e foco, sempre, a solução de gargalos apresentados pela indústria nacional na solução de problemas.

Estamos discutindo com países que detêm tecnologia para, inclusive, produzir no Brasil e exportar produtos que sequer fazíamos para o nosso consumo. Isso é um fato auspiciosíssimo. A Rússia, por exemplo, estuda com o Brasil acordos para equipamentos de geoposicionamento. O mercado de geoposicionamento, até hoje, é dominado pelo GPS, sistema americano de posicionamento. O Glonass, que durante certo tempo sofreu atrasos e descontinuidades na sua atualização e finalização está agora em franca expansão. O Brasil, nesse contexto, poderá ser um parceiro da Rússia na divulgação desse sistema, e, mesmo, abrigar estações de referência para melhorar sua precisão na nossa região.

O monitoramento de áreas terrestres é um ponto importante para que um país consiga soberania. A única forma de observarmos grandes áreas é por meio de satélites. O Brasil, juntamente com a China, já lançou três satélites de imageamento - o CBERS – e lançará outro, em breve. Há algum projeto para a construção de satélites de monitoramento com tecnologia essencialmente brasileira?

Em primeiro lugar, podemos citar a capacidade nacional de desenvolvimento de câmeras ópticas, com as que estão sendo concluídas para os satélites Amazônia e CBERS 3 e 4, pela empresa Opto, de São Paulo (SP). Devemos, ainda, considerar a conclusão da Plataforma Multimissão, que, com as câmeras, comporão satélites de observação inteiramente nacionais.

Em paralelo, a AEB anseia por um satélite de monitoramento e vigilância de suas fronteiras e, sobretudo, das regiões inóspitas onde existem dificuldades de termos base militares. Esse satélite, o Sentinela, ainda em fase de concepção, seria resultante de tecnologia desenvolvida por empresas da região de São José dos Campos (SP). Ele tem uma característica extremamente funcional, é pequeno, leve e pode dar conta de resolver problemas imediatos no que concerne à segurança e ao monitoramento do nosso território.

A Agência Espacial Brasileira acredita e apóia os estudantes brasileiros?

A AEB já possui três programas voltados aos estudantes. O AEB Escola destina-se ao público do ensino fundamental e médio e, em especial, à formação continuada de professores, de forma que eles possam incluir a temática espacial nas matérias do currículo escolar, como matemática, física e geografia. Para o público universitário há dois programas: o UNIESPAÇO e Microgravidade.Publicamos editais periódicos para apoiar projetos de grupos de pesquisa dentro de temas de interesse do programa espacial. Os grupos submetem seus projetos a uma banca de seleção e os aprovados recebem suporte para a realização.


Fonte: Revista Espaço Brasileiro - núm 06 - Ano 2 - Jul., Ago. e Set. de 2009 - Pags. 5, 6 e 7

Comentário: Apesar de ter um conceito diferente do senhor Carlos Ganem do que significa um programa espacial completo, já que em minha opinião diferentemente da dele, o Brasil infelizmente não faz parte ainda desse chamado “Clube Espacial”, já que para participarmos desse fechado clube teríamos de ter o domínio da fabricação de satélites e artefatos espaciais, lançá-los em órbita por um foguete próprio e de seu próprio sítio de lançamento, coisa que ainda em parte não foi feito pelo país, conseqüentemente, não temos ainda um programa espacial completo. Quanto a entrevista do presidente da AEB a mesma não acrescenta muita coisa. No entanto, é esclarecedora em dois pontos que gostaria de destacar em meu comentário. O primeiro é com relação ao VLS, ou seja, agora é oficial, não teremos mais em 2010 o primeiro vôo teste do foguete com o primeiro e segundo estágios ativos como estava programado, ficou para 2011. E o segundo ponto é sim uma notícia nova e que vem a público pela primeira vez até onde eu tenha conhecimento. Trata-se do projeto do satélite “Sentinela”, citado pelo presidente da AEB como sendo um satélite de monitoramento e vigilância de fronteiras. Interessante projeto que parece que será desenvolvido por empresas brasileiras e que nos próximos dias estarei buscando na net maiores informações sobre o mesmo para postá-las aqui no blog.

Comentários

  1. Como seria um projeto de um satelite de monitoramento de fronteiras? Seria, basicamente um satelite de obs. terrestre ?

    Abs.

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  2. Olá Ramir!

    É isso mesmo amigo, seria básicamente um satélite de observação da Terra direcionado para observação das froteiras brasileiras. No entanto, não foram divulgadas ainda maiores informações sobre esse satélite. Na relaidade, o Ganem deu um furo jornalístico para a revista "Espaço Brasileiro", pois foi a primeira vez que esse assunto veio a tona na mídia.

    Abs

    Duda Falcão

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