Resposta do Diretor da ACS ao Colunista Merval Pereira


Olá leitor!

Segue abaixo na íntegra a carta enviada pelo diretor-geral da parte brasileira da empresa bi-nacional Alcântara Cyclone Space (ACS), o senhor Roberto Amaral, ao jornalista Merval Pereira do jornal “O Globo”, em resposta a coluna “Uma Bomba Política” publicada pelo mesmo na edição do dia 10/09 do respectivo jornal.

Duda Falcão

Caro Merval Pereira,

Sua sempre oportuna e sempre isenta coluna não teria sido publicada, hoje, com as falhas que a seguir indico, caso você me tivesse ouvido antes de escrevê-la.

Primeiro de tudo, o nela mencionado major brigadeiro da reserva não era representante da Força Aérea na Agência Espacial Brasileira, AEB. Para o cargo que ocupava fora convidado diretamente pelo presidente da Agência, Carlos Ganem. Sua demissão foi solicitada pelo Ganem ao MCT logo após o incidente, pois, antes de mim, na reunião citada, fora ele desrespeitado pelo seu hoje ex-auxiliar.

Em segundo lugar, não é correta a afirmação segundo a qual o acordo (na verdade Tratado) entre o Brasil e a Ucrânia, visando ao projeto Cyclone-4, fora objeto de 'polêmica logo no início do governo Lula'. A polêmica foi relativa ao Acordo de Salvaguardas firmado pelo governo anterior com os EUA. O Tratado com a Ucrânia foi assinado por mim, em nome do governo brasileiro, em 21.10.2003, e promulgado, após aprovação pelo Congresso Nacional, em 28.4.2005. O Acordo de Salvaguardas com a Ucrânia foi promulgado em 2004. E não contém as restrições que nos foram impostas pelos EUA e aceitas pelo governo anterior. Aproveito para dizer-lhe: está havendo transferência de tecnologia.

Em terceiro lugar, a versão relativa à discussão comigo é fantasiosa. Não se tratou de quilombolas. A pacificação com os quilombolas foi comandada e levada a cabo por mim e concluída em março último nos Autos de uma Assentada perante a Justiça Federal do Maranhão. As dificuldades, que não foram criadas pela ACS, pertencem ao passado. Não se falou em PAC. Estou, realmente, empenhado em que as obras do Centro de Lançamento de Alcântara, pela seu caráter estratégico, sejam incluídas no PAC para que assim possamos promover ainda em 2010 o vôo de qualificação, como determinou o Presidente da República. Mas essa é discussão que se trava em outro nível, com a Ministra Dilma e o presidente Lula. A reunião era puramente técnica: pretendia-se discutir a compatibilidade dos cronogramas de obras e serviços da ACS e da AEB. O ex-diretor foi grosseiro com o diretor-geral da parte ucraniana, O. Serdyuk, e com o vice-diretor técnico brasileiro, João Ribeiro Jr. Cumpri o dever de defendê-los e daí resultou o incidente, muito medíocre, sem os lances rocambolescos (à maneira dos westerns italianos) que lhe descreveram. Para você ter idéia, eu e meu agressor estávamos distantes um do outro por algo como dez metros e umas duas dezenas de diretores e técnicos.

Abraços de seu sempre devedor

Roberto Amaral


Fonte: Site da Alcântara Cyclone Space (ACS)

Comentário: Analisando as informações sobre o incidente passadas pelo senhor Roberto Amaral em sua carta-resposta ao jornalista, começo a desconfiar que eu estava certo quando disse anteriormente que provavelmente o pivô da discussão seria o cronograma de obras na Base de Alcântara (veja aqui a nota Confusão em Reunião do PEB na Sede da AEB em Brasília). Dizia eu em meu comentário a época: “é possível que nessa reunião ele tenha tentado impor que a Aeronáutica coloque as obras da TMI (já em andamento) em segundo plano e permita que se dê prioridade as obras das instalações do sítio de lançamento do foguete Cyclone 4, visando assim ter tempo hábil para que a empresa possa cumprir o cronograma de lançamento previsto para dezembro de 2010. Acontece que durante a “Operação FogTrein I” um dos oficiais da Aeronáutica ligados a operação de lançamento havia dito para imprensa que as duas operações de lançamentos (uma do foguete VSB-30 e uma outra do foguete Orion) que estavam planejados para serem lançados ainda esse ano do CLA, seriam transferidas para o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI) em Natal, devido as obras da TMI que precisavam ser aceleradas para se cumprir o cronograma do lançamento do VLS previsto para dezembro de 2010”, e parece que minhas suspeitas são confirmadas pelo senhor Roberto Amaral em sua carta quando o mesmo diz: pretendia-se discutir a compatibilidade dos cronogramas de obras e serviços da ACS (leia-se sítio de lançamento do Cyclone 4) e da AEB (leia-se obras da TMI do VLS). Se assim foi, não é atoa que o major-brigadeiro Chaves se alterou, já que para a Aeronáutica (em minha opinião com toda razão) o "Programa do VLS" é o principal programa do PEB (o que contrariamente vem sendo divulgado pelo senhor Roberto Amaral através da mídia) e como tal tem prioridade e o "Programa Cyclone 4" é um programa de cunho comercial e portanto deveria esperar a finalização das obras da TMI já em curso na base. Outra coisa que se tem de se estranhar na carta do senhor Roberto Amaral, é a afirmação do mesmo para o jornalista de que o major-brigadeiro Chaves não era o representante da aeronáutica na Agência Espacial, já que a instituição como parte integrante de PEB certamente tem seu representante na diretoria da agência e o major-brigadeiro já havia sido apresentado como se fosse esse representante. Além disso, a afirmação do senhor Roberto Amaral de que está havendo transferencia de tecnologia é muito estranha, já que o tratado com a Ucrânia não prevê isso e não acredito que esse país esteja agindo como um Papai Noel fora de época numa questão tão estratégica para qualquer nação do planeta.

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