Observatório Nacional - Entrevista do Diretor


Olá Leitor!

Segue abaixo a entrevista do Sr. Sérgio Luiz Fontes, diretor do Observatório Nacional (ON) postada dia 23/06 no “Informe Abipti” falando sobre as prioridades para o novo mandato do mesmo à frente da instituição.

Duda Falcão

OBSERVATORIO NACIONAL TRAÇA PLANOS PARA O FUTURO

23/06/2009. O diretor do Observatório Nacional (ON), Sergio Luiz Fontes, que foi recentemente reconduzido ao cargo, fala sobre as suas prioridades para o novo mandato à frente da instituição.

Ele também faz um balanço da sua antiga gestão e lembra que o Brasil é um pais privilegiado para os estudos de geomagnetismo. Leia a entrevista concedida ao "Informe Abipti":


Durante o seu discurso de posse, o senhor afirmou que graças à sensibilidade do governo federal com a área de C&T, foi possível praticamente triplicar o orçamento do ON. Qual vai ser o orçamento do observatório neste ano? Onde esses recursos serão aplicados?


O ON conta este ano com recursos da ordem de R$ 8,2 milhões do Tesouro Nacional, incluindo o orçamento propriamente dito e destaques recebidos do MCT. Prevemos que metade desses recursos serão aplicados nas despesas de manutenção (os denominados itens de funcionamento: energia, água, terceirização etc) e recuperação da infra-estrutura predial. A outra metade será investida nas ações finalísticas do ON na área de astronomia, geofísica e metrologia de tempo e freqüência.

Também serão investidos recursos em quatro projetos estruturantes: Hora Legal Brasileira, Plataforma Nacional de Coleta de Dados Geofísicos, Astrosoft: sistema não supervisionado de alto desempenho para grandes bases de dados astronômicos e Impacton: monitoramento de objetos celestes potencialmente perigosos para a Terra.

O ON conta ainda com mais de 60 projetos de pesquisa em andamento. O observatório também utilizará recursos da ordem de R$ 6 milhões em projetos desenvolvidos com a Finep e Petrobras.


O observatório foi contemplado recentemente com o prédio Lélio Gama, que tornará a instituição referencia mundial na área de geofísica. Quais projetos serão desenvolvidos nesse local e qual a sua importância?


Inicialmente temos três projetos de infra-estrutura de pesquisa. Um deles é o Pool de Equipamentos Geofísicos, que envolve recursos da ordem de R$ 14 milhões e um número apreciável de sismógrafos, gravímetros e sistemas magnetotelúricos. Os equipamentos já se encontram no ON e diversos projetos já estão sendo beneficiados.

O segundo projeto é a Rede Sismográfica do Sul - Sudeste do Brasil - projeto RSIS, que conta com recursos de R$ 6 milhões, oriundos da Petrobras, e é composto por 12 estações sismográficas terrestres, seis estações sismográficas a serem instaladas no fundo oceânico da Bacia de Santos e quatro estações sismográficas nas ilhas brasileiras, para o acompanhamento em tempo real da atividade sísmica da área mais populosa do país.

Os equipamentos estão chegando ao Brasil nos próximos dois meses e até o final do ano algumas estações estarão em funcionamento. Esta rede será complementada por uma rede do Nordeste, a ser coordenada pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, e uma rede com estações distribuídas pelo interior do Brasil, que ficará sob a responsabilidade do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo. Caberá ao ON concentrar no novo prédio a recepção dos dados das três redes que cobrirá todo o país.

A terceira iniciativa é a Rede Brasileira de Observatórios Magnéticos - projeto Rebom, que conta com R$ 670 mil da Finep. Hoje, o ON mantém dois observatórios magnéticos, o primeiro em Vassouras (RJ), desde 1915. O segundo está situado na Ilha de Tatuoca (PA), desde 1957. Implantaremos um total de sete observatórios magnéticos, contando com os dois existentes e os cinco novos, alem de uma rede de 18 observatórios magnéticos itinerantes, que operarão em torno de dois anos em áreas selecionadas do território brasileiro.

O Brasil é privilegiado para os estudos de geomagnetismo, pois encontramos no nosso território o eletrojato equatorial (região com variações diárias ampliadas do campo) e a anomalia magnética do Atlântico Sul (região onde o campo magnético terrestre tem a menor intensidade em todo o planeta).

Vários estudos serão beneficiados com os três projetos citados acima. Em todos os casos, o potencial de ampliação do conhecimento geológico e geofísico no território brasileiro é imenso. São informações relevantes tanto do ponto de vista acadêmico quanto econômico. Dados sobre a evolução geológica, geotectônica e sobre recursos naturais serão o foco dos estudos.


O senhor poderia fazer um balanço da sua primeira gestão no ON?


Nos quatro anos passados nossas prioridades foram a recuperação da infra-estrutura física e de pesquisa e a implantação de mecanismos de gestão. Nesse sentido, fizemos à reforma de vários edifícios do campus, como a Casa Rosa, construção restaurada do século 19 para onde a direção se mudou e passou a atuar junto à administração. Também construímos o novo prédio de pesquisas para a geofísica, que foi inaugurado no dia da posse.

Sobre a infra-estrutura de pesquisas, destacaria o Projeto Impacton, que resulta na instalação de um telescópio robótico no Estado de Pernambuco para o monitoramentode objetos celestes potencialmente perigosos para a Terra; a participação do ON nos consórcios internacionais Dark Energy Survey e Sloan Digital Sky Survey 3, para gerenciamento e desenvolvimento de ferramentas para grandes massas de dados astronômicos; e o convênio com o ESO para uso do telescópio de 2,2m em La Silla, Chile para missões de observação dos nossos astrônomos. Vários artigos científicos, dissertações e teses recentes já são frutos dessa ultima ação.

Entre outras iniciativas, foi ampliada a infra-estrutura instrumental do Serviço da Hora com a aquisição de novos padrões atômicos e instrumentos de calibração. Todos os projetos em andamento nos últimos quatro anos representam investimentos da ordem de R$ 12 milhões da Finep e R$ 25 milhões da Petrobras.

No que diz respeito à gestão, realizamos o Planejamento Estratégico e o Plano Diretor 2006-2010. Além disso, alcançamos sempre bons resultados no Termo de Compromisso de Gestão assinado anualmente entre o ON e o MCT e implantamos o SIGTEC - Sistema Gerencial de Acompanhamento Administrativo e de Projetos, desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (CTI/MCT).

Teve ainda, em cooperação com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), a elaboração do Plano Diretor do campus, um instrumento que apresenta possibilidades para que as duas instituições possam planejar a expansão e diversificação de suas atividades, para o cumprimento de suas missões, diante das limitações impostas ao Campus ON-Mast pela sua condição de bem tombado.


Quais são os principais desafios da instituição?


Prosseguir na busca por recursos orçamentários crescentes e na captação de recursos extra-orçamentários para promover o crescimento harmônico das três áreas de atuação do ON. Embora seja importante o investimento continuado na infra-estrutura institucional, a prioridade deve ser o investimento em recursos humanos: novos concursos para pesquisadores, tecnologistas, técnicos e servidores de gestão, mais pós-doutores, pesquisadores visitantes, mais profissionais financiados por projetos, mais estagiários etc. Além disso, o ON deve ser vetor de desenvolvimento da pesquisa, ensino e de prestação de serviços, todos de excelência.


O ON é uma das instituições filiadas à Abipti. Como o senhor avalia a importância da associação para a área de CT&I no país?


É fato bem conhecido que a produção cientifica brasileira vem alcançando crescimento admirável nos últimos 10 -15 anos, superando mesmo a maioria das nações desenvolvidas. Entretanto, a produção tecnológica, o aumento do numero de patentes brasileiras não tem acompanhado o crescimento da produção cientifica. Embora seja uma instituição predominantemente acadêmica, o ON está participando do esforço de ampliar o desenvolvimento tecnológico do país, em sintonia com a missão da Abipti. As áreas de metrologia de tempo e freqüência e mesmo a geofísica podem dar contribuição importante.
( Fonte: Informa Abipti, JC ) Ed: CE


Fonte: Boletim Supernovas - Quinta-feira, 25 de Junho de 2009 - Edição No. 519 (via e-mail)

Comentário: Como se pode notar pela entrevista acima, diferentemente do Programa Espacial Brasileiro, na área da astronomia o país vem alcançando resultados bem significativos e reconhecimento internacional por esses avanços. Muito provavelmente os órgãos envolvidos são geridos de forma mais profissional, centrados nos objetivos a serem alcançados mediante a um plano de ação de curto, médio e longo prazo muito bem elaborado. Parabéns a esses profissionais e que esse exemplo seja seguido na íntegra o mais breve possível pela nossa atrapalhada Agencia Espacial.

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