Operação Lençóis Maranhenses


OPERAÇÃO LENÇÓIS MARANHENSES

Descrição da Campanha

Data do início da campanha: 27/01/2000
Operação: Lençóis Maranhenses
Foguete: VS-30
Numero do vôo do foguete: 5
Data de lançamento: 06/02/2000
Horário: 13h37 (hora local)
Local: Centro de Lançamento de Alcântara - Alcântara-MA
Apogeu do vôo: 148,7 Km
Tempo de vôo: 13 minutos
Objetivo: Transportar carga útil desenvolvida pela DLR / MORABA com experimentos de universidades brasileiras e de uma de empresa alemã
Resultado: Sucesso total

Experimentos Embarcados

- Efeito da microgravidade na cinética enzimática da invertase de células intactas Saccharomyces cerevisiae

- Caracterização das alterações teciduais em planárias (Dugesia tigrina) submetidas a ambiente de microgravidade

- Ensaio em vôo da abertura de um dispositivo robótico contendo 2250 cartões postais que realizaram uma “jornada no espaço”

Instituições Envolvidas

AEB - Agência Espacial Brasileira
CTA - Centro Técnico Aeroespacial
IAE - Instituto de Aeronáutica e Espaço
DEPED - Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento
DLR / MORABA - Centro Aeroespacial Alemão
UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba
FEI - Faculdade de Engenharia industrial
DASA - Empresa Aeroespacial Alemã
CLA - Centro de Lançamento de Alcântara - Alcântara-MA
CLBI - Centro de Lançamento da Barreira do Inferno - Natal-RN

Às 13h37, hora local, do dia 06 Fev. 2000, foi lançado com sucesso, do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA), no Estado do Maranhão, o , quinto veículo da família de foguetes de sondagem VS-30.O veículo foi desenvolvido pelo Instituto de Aeronáutica e Espaço do Centro Técnico Aeroespacial (CTA/IAE), de São José dos Campos – SP.

A carga útil, compartimento onde são alojados os experimentos embarcados, teve seu desenvolvimento e fabricação a cargo do Centro Aeroespacial Alemão DLR-MORABA, um centro de pesquisas constituído de equipes que podem se deslocar por todo o mundo realizando lançamentos, e transportou experimentos científicos de duas universidades brasileiras (FEI – Faculdade de Engenharia Industrial e UNIVAP – Universidade do Vale do Paraíba), e um experimento tecnológico desenvolvido pela empresa alemã DASA. Desde o dia 27 Jan. 2000 as equipes do IAE, CLA e DLR-MORABA tentavam viabilizar o lançamento, mas fortes ventos na altitude de até 3 mil metros, atingindo tanto a área de lançamento quanto a região em que deveria ocorrer o resgate da carga útil, impediam o prosseguimento da contagem regressiva para a decolagem do veículo. As sondagens meteorológicas indicavam que a combinação de velocidade e direção dos ventos que predominaram nessa região no período de 27 jan a 05 fev, não permitiriam o lançamento dentro dos limites de segurança exigidos para uma operação deste porte.

As condições meteorológicas para o tipo de lançamento previsto para a Operação Lençóis Maranhenses, com recuperação da carga útil em solo, requerem condições bastante peculiares, ou seja, ventos de intensidade fraca a moderada e direção predominante do setor leste. Ventos com a intensidade mencionada são normalmente encontrados durante o período chuvoso, compreendido entre os meses de janeiro a maio, na região de Alcântara. Os meses de janeiro e fevereiro foram escolhidos para esta Operação pelo fato de marcarem o início da estação chuvosa, e possuírem o menor índice pluviométrico, menor número de dias chuvosos e condições de vento mais favoráveis dentro do período chuvoso.

Porém, desde o início da Operação, uma condição meteorológica de frentes frias estacionárias no nordeste brasileiro vinha se mantendo persistente provavelmente devido ao fenômeno “La Niña”, impedindo sucessões de eventos sinóticos que propiciassem as condições ideais para o lançamento.

O vôo do VS-30 XV05, veículo mono estágio que utiliza propelente sólido, com comprimento de 7,4 m e massa total de 1460 kg, foi nominal e atingiu o apogeu aos 148,7 km.A separação entre a carga útil e o motor-foguete, bem como o vôo parabólico controlado pelo sistema de controle de atitude, foram perfeitos. O veículo permaneceu no espaço por 13 minutos, proporcionando aproximadamente 200 segundos de microgravidade, tempo suficiente para que os experimentos embarcados pudessem sofrer a ação desse ambiente.

No momento da reentrada na atmosfera, a carga útil, pesando 241 kg, sofreu um desvio, não previsto, para a direção norte, afastando-se da costa. Após a abertura do pára-quedas, o vôo, sob influência dos ventos, ocorreu conforme previsto, ou seja, com o pára-quedas propiciando uma trajetória em direção à região dos Lençóis Maranhenses.Porém, devido ao primeiro desvio ter sido de maior magnitude, o pouso ocorreu no mar, a cerca de 3 quilômetros do continente.

As Universidades tiveram a oportunidade de embarcar seus experimentos na carga útil desenvolvida pelo DLR-MORABA sem ônus para o Brasil. O mesmo não ocorreria se elas resolvessem utilizar vôos de outros países que, além de pagos, dependeriam de disponibilidade de datas para terem embarcadas suas pesquisas nesses veículos. Assim, as equipes dessas instituições puderam ter embarcados os seguintes experimentos científicos:

- ‘Efeito da microgravidade na cinética enzimática da invertase de células intactas Saccharomyces cerevisiae’: este experimento, conduzido por pesquisadores da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI), de São Bernardo do Campo – SP, é coordenado pela professora Adriana Lucarini e destina-se ao estudo da invertase, uma enzima que catalisa a hidrólise de carboidratos como a sacarose e permite a obtenção de uma mistura e açúcares, formada por glicose e frutose, de poder adoçante superior ao da sacarose e que não cristaliza facilmente. Como a sacarose tem que passar por uma membrana para que ocorra a reação, pretende-se verificar se acontecem diferenças significativas no parâmetros cinéticos durante o período em que o experimento se encontra em microgravidade. O estudo de cinética enzimática é fundamental no projeto de biorreatores, sendo que a influência da microgravidade nos parâmetros cinéticos de reações enzimáticas é pouco explorado, acreditando-se que poderão ocorrer diferenças nesses parâmetros devido ao fenômeno de difusão que sofre alterações em ambiente de microgravidade.

- ‘Caracterização das alterações teciduais em planárias (Dugesia tigrina) submetidas a ambiente de microgravidade’: este experimento atende às pesquisas realizadas pelo Centro de Estudos da Natureza da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), de São José dos Campos –SP e está sendo conduzido pela professora Nádia Maria Campos Velho.Tem por objetivo verificar as alterações morfo-fisiológicas que ocorrem com as planárias quando as mesmas são submetidas a ambiente de microgravidade. Antes do embarque as planárias, que atuam como bio-indicadores da qualidade da água, foram medidas e tiveram as cabeças cortadas para que se desse, a partir daí, o processo de regeneração de suas células. Em condições normais, esse processo demora de 13 a 15 dias para ser concluído. Pretende-se que estes estudos sejam úteis para a caracterização das mudanças observadas nos organismos, e também da regeneração celular, e que apresentem potenciais de impacto para a engenharia genética.

O experimento tecnológico embarcado, desenvolvido pela empresa alemã DASA, deveria realizar, em vôo, a seguinte missão:

- Ensaio em vôo da abertura de um dispositivo robótico contendo 2250 cartões postais que realizaram uma “jornada no espaço”.Estes cartões fazem parte de uma campanha de propaganda do Correio Alemão denominada Space Mail 2000. Durante o vôo, o dispositivo, que funcionou perfeitamente, permitiu que fossem lançados no espaço 250 desses cartões.

Para o lançamento, o IAE/CTA utilizou cerca de 25 pessoas, além de fornecer pessoal para exercer atividades no Centro de Lançamento.Do CLA participaram 80 técnicos diretamente envolvidos na atividade; o CLBI envolveu cerca de 10 técnicos no acompanhamento do lançamento e o DLR-MORABA e demais organizações a ele ligadas contaram com cerca de 18 pessoas.

Independentemente de qualquer outro aspecto, os trabalhos conjuntos envolvendo brasileiros e alemães trazem inegáveis benefícios técnicos para o nosso país, benefícios esses de difícil quantificação financeira e cuja mensuração não é feita apenas no curto prazo.Um bom exemplo disso são os intercâmbios científicos mantidos entre técnicos brasileiros e alemães, que possibilitam a manutenção de um constante treinamento e já vêm ocorrendo há pelo menos uma década.

A Operação Lençóis Maranhenses, uma vez mais, confirmou a excelência da parceria mantida entre o Brasil e a Alemanha, em particular entre o CTA/IAE, o CLA e o DLR-MORABA. Os procedimentos operacionais a cargo do CLA demonstraram que o mesmo está devidamente qualificado para realizar lançamentos de foguetes de sondagem e veículos lançadores de satélite.

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